Espanto

Vamos morrendo de espanto. Primeiro, em retalhos. No fim, o todo que resta. Num caso como noutro, o espanto é o gatilho.

O espanto é uma morte fértil. Não é semente daquilo que o causa. Mas, cava sulcos na terra que somos e fertiliza-os.

Repara, se me espanta não receber notícias tuas, não é por me espantar que elas chegarão. Portanto, o espanto vai aniquilando uma certa esperança, abrindo um espaço, que antes não existia, para algo novo.

O espanto é um fantasma, que se destapa, um susto, que enche os pulmões, algo inusitado, que não se deseja, mas que encaixa. 

O espanto é um perecer em brando lume, a ferver, que não se esgota.

A súbita consciência de um fogo inexistente, que abrasa, sem cessar, coração de quem o sente. 

O espanto congela a veias, mas não pára o coração.

O espanto é uma morte lenta e um começo voraz.  É o momento que antecede um fim e um início simultâneos.

É o espanto que nos mata, para que possamos viver.

Espantemo-nos então.







Preciso de partir

Tantas vezes deixarei de morrer, para que não partas.