Aparato no peito

Este exagero absurdo em que transformo a mágoa, percebo que te seja perfeitamente inútil. Na verdade, se eu pudesse ser só ser um ato de razão, também tornaria inutilidade tudo o que sinto. Não há saldo positivo quando se carrega este aparato no peito horas a fio. 

Não me assombram os teus mil afazeres.

Nem que o tempo te passe entre os dedos sem dares conta.

Incomoda-me que não tenhas, como eu, um aparato no peito.

Visitante

A noite já caiu há muito
E as nuvens bloqueiam a luz da lua e das estrelas

A mesa está posta, flores murchas numa jarra sem água
Duas cadeiras, uma vazia

Há silêncios para pôr em dia
Onde em tempos conversas te esperaram

A porta está fechada
E até as janelas se incomodam com a luz do sol, quando há dia lá fora

Talvez não valha a pena aguardar

Tenho tantas coisas para te mostrar
Mas, agora tudo me parece velharia, gasta pelo tempo e pela ausência

Talvez se eu abrisse a porta
E juntasse cadeiras à mesa
Quem sabe o silêncio desse lugar à prosa
E as portadas rasgassem fissuras para a aurora entrar.

Preciso de partir

Tantas vezes deixarei de morrer, para que não partas.