Consensos não existem em Democracia


Nota prévia: 
A motivação para a reflexão tem a ver com a justificação política, apresentada persistentemente pelos nossos governantes, para validar todas as decisões tomadas, a propósito da pandemia que vivemos: o CONSENSO. Quando uma medida menos popular reflete na sociedade um reação mais quente, António Costa, ou outro representante do governo, usa o trunfo da consensualidade parlamentar, na tomada de decisão, para "calar" a reação.

Ora bem...

Tanto num regime democrático, como na vida em geral, acredito em cedências vigilantes e não em consensos, no ato de decidir. 
A validade de uma decisão não pode ser medida pela consensualidade que envolveu, no grupo que a decidiu. Até porque não há regime político mais consensual do que uma ditadura e isso não a torna legítima.
Em plena pandemia, todas as decisões políticas têm sido justificadas ou alicerçadas num assentimento parlamentar perigoso, que parece adormecer quem ajudou a decidir. Porquê? Porque, ao encontrar deferimento nos diferentes deputados, as medidas deliberadas parecem afastar vigilantes. Toda a decisão tomada deve ser vigiada criticamente e de perto. Todas as medidas implicam vigílias. 
Comparemos o ato de decidir/vigiar ao ato de selecionar no GPS um destino, para o qual nos queremos deslocar, quando não estamos certos do melhor caminho a tomar. Durante a viagem, não nos limitamos a fazer o que o GPS indica. Observamos, atentamente, o que dizem as placas na estrada, se o caminho indicado for um caminho de cabras, hesitamos, voltamos atrás. Em última instância, se tivermos um pressentimento de que estamos perdidos, paramos o carro, baixamos o vidro e pedimos orientações a um local. O GPS é, consensualmente, uma ferramenta muito fiável, mas, ainda assim, não tem a nossa confiança cega. Decidir e vigiar é muito isto. Decidimos e, mesmo com o conforto de uma aceitação generalizada em relação à decisão tomada, continuamos a vigiar, porque sabemos que o consenso não valida a decisão. O consenso, que, na minha opinião, é mais cedência, confere poder para agir, para avançar. Mas, não devia conferir poder para calar quem se opõe. E eu sinto que estamos a ser amordaçados por um consenso, que facilita o trabalho do Governo, mas que serve a poucos. 

Preciso de partir

Tantas vezes deixarei de morrer, para que não partas.