Luta
Perspetiva
Sentir é a única contradição
Outra terra onde esperar
Meteorologia de um corpo zangado
Fio enrolado no dedo
Palavras feitas
Corpo
Mapa
Tempo
Contar os sóis
Consensos não existem em Democracia
Tempo
Que colhemos ao tempo, sem tempo,
Debaixo de um lento céu, excedente em nuvens chorosas,
Sem agasalho na alma
Sem as mãos calejadas
E com o coração faminto.
Escrúpulos
Como grande parte da nossa sociedade, porque inserida numa cultura judaico-cristã, fui educada a não julgar o próximo. Mais, fui ensinada que julgar é mau e faz de mim uma pessoa mais próxima do Mal do que do Bem. Por isso, quando o faço - e faço-o muitas vezes, porque decido - sinto-me uma pessoa sem escrúpulos, o que me leva a refletir: por que me mói tanto o ato de julgar e por que razão não consigo evitá-lo?
Ajuizamos a toda a hora. Viver é uma catadupa de julgamentos. Avaliamos coisas, eventos e pessoas. Fazemo-lo por uma questão de sobrevivência estratégica. Quando julgamos, estamos a agir, por intuição ou deliberadamente, de modo a garantir a nossa continuidade e a dos nossos, nas condições mais favoráveis, dentro de um quadro de valores que defendemos e adotamos. Bons e maus juízos permitiram à Humanidade chegar ao momento em que vivemos. Um julgamento não acontece no vazio, sucede a algo. Em última análise, temos gravado no nosso ADN as aprendizagens de um sem número de julgamentos, feitos pelos nossos antepassados - uma espécie de memória RAM - que nos ajudam a assegurar a continuidade da espécie, julgando o melhor possível cada ato nosso e dos outros.
A propósito do ato de julgar, ouvimos, com frequência, o seguinte raciocínio: o que vês no outro é o teu
reflexo. Portanto, se vejo maldade no outro, sou
má. Se vejo bondade, sou boa. E por aí a fora…
Ultimamente, tenho refletido sobre esta argumentação (que não é menos que um juízo), que surge, quase sempre, quando o julgamento é negativo e a parte julgada se sente ofendida. Assumir o outro como nosso espelho é desresponsabilizá-lo, é destituí-lo da sua capacidade de agir de livre arbítrio. Pior, de acordo com esta premissa, o outro só existe porque eu existo; e eu não existo sem o outro, porque não há existência possível se não houver outro onde nos projetarmos.
Pergunto-me, perdemos a nossa essência, a nossa unicidade, se o nosso semelhante não estiver por perto, para nos vermos ao espelho? Não creio… e basta enumerar uma série de personalidades que passaram pela clausura e isolamento e que não se perderam de si, durante esse período…
Até posso aceitar que, pontualmente, exista alguma
ambiguidade no nosso julgamento, sobretudo quando estamos desequilibrados ou feridos emocionalmente, mas não creio que seja a norma nem que essa
ambiguidade seja obrigatoriamente o reflexo daquilo que somos. Como disse, um
julgamento sucede a algo. Um comportamento, uma conversa, uma intenção espoletam julgamentos. Muitas vezes, remetem-nos para eventos passados, com
características idênticas, que podem resultar em consequências similares. Julgamos para mudar ou para manter.
O que eu vejo no outro, pode muito bem ser o que ele é. O que eu vejo no outro, pode não ter nada a ver com o que eu sou.
Ter a capacidade de julgar é ter a capacidade de fazer caminho. E, enquanto avançamos, com a certeza do que queremos, ajuizaremos sobre tudo o que encontrarmos na jornada, sempre com o intuito de não nos perdermos da nossa missão.
Julgar com escrúpulos é útil para sermos o menos injustos possível. E talvez por isso não ceda em abandonar esta espécie de indecisão, que persiste no espírito, mesmo quando tudo indica que fiz um bom julgamento. Mais a mais, dá-me alguma tranquilidade saber que não temo ser julgada na mesma medida.
Poema de Amor
Aparato no peito
Este exagero absurdo em que transformo a mágoa, percebo que te seja perfeitamente inútil. Na verdade, se eu pudesse ser só ser um ato de razão, também tornaria inutilidade tudo o que sinto. Não há saldo positivo quando se carrega este aparato no peito horas a fio.
Não me assombram os teus mil afazeres.
Nem que o tempo te passe entre os dedos sem dares conta.
Incomoda-me que não tenhas, como eu, um aparato no peito.
Visitante
Esperança
Desejos
Em tantas noites
também eu me sentei debaixo de um negro céu
à espera que as estrelas caíssem no meu colo
e queimassem as pontas dos meus dedos, que insistem em carregar com todo o cuidado
este coração
cadente
Desejo que nada o impeça de cair contra o chão.
Se te fores embora
Parte como chega o verão:
numa madrugada aleatória de junho,
despertados pelo suor que nos escorre pelo pescoço,
percebemos o cobertor a mais na cama.
Que assim seja o nosso desamor,
um problema de transpiração.
Pois o inverno estará perto, ao virar de duas estações, se te fores embora como o verão chega.
E o cobertor voltará à cama.
Assim o amor
Faço tudo o que me pedes
Mas, não te iludas
Depois de pedires,
Quem decide sou eu.
Porém, faço tudo o que pedes
É assim o amor
Altivo e servil
Passado
Ainda assim, talvez tivesse valido a pena ver-te arrancar-me a pele. Dois casulos lado a lado.
Duas borboletas a acontecer.
Café do Parque
Vaga clarividência
É limpar o horizonte,
Que se faz aurora a cada volta
É caminhar inequívoca,
Com um olhar claro
É ir contigo,
Fazer estrada sem onde
É ter a fé do bom ladrão
Preciso de partir
Tantas vezes deixarei de morrer, para que não partas.
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Estou aqui. Contigo presente. Sempre. Mesmo que os sonhos sejam tremendos, E as noites me assombrem com medos, Em cada madrugada receber-te-...
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Eu era uma pessoa otimista Encarava a vida com uma esperança pueril E ria na cara do desalinho Fintava os contratempos E fazia o queria 202...
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És tu.